sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mania de Maria só-zinha

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Eu ainda brinco de boneca
e a minha boneca chama-se Maria.
Durante o dia, dentro de um armário,
eu guardo, com cuidado, a minha bonequinha.
Depois cuido para que ninguém perturbe
nem que alguém machuque
a minha doce Maria-só-zinha.


Porque a Maria é feita de delicados panos
cada qual com metros de bordados
e coloridos mantos.
Porque a Maria é curiosa, é formosa,
mas ainda é muito pequena.
Por isso, pode desmanchar suas tranças
e perder-se nas rendas;
Ou nas areias turvas e claras e sardentas.


Mais eu ainda brinco de boneca
Só para pentear alvos e enormes cabelos.
Fazer-lhe roupas, inventar-lhe nomes,
namorados e segredos.
Depois desmanchar tudo; sem, contudo,
destruir-lhe os sonhos, parafraseados e adereços.


Porque eu ainda brinco de boneca
e construo casas bem “azulzinhas”
para que a minha Maria-só-zinha não se sinta sozinha
e possa fazer gostosuras em sua farta cozinha.


Isso tudo porque eu brinco de boneca
e a minha boneca chama-se Maria.
É Maria que pinta em tonta-tinta as minhas curvas-linhas.
É Maria que liga ponto a ponto a ponte da minha varinha.


Porque ainda sou criança e meu natural é imaginar
Porque criança que é criança,
brinca mesmo sem saber jogar.
Porque criança não se preocupa por que sonha,
nem o porquê do sonhar.
Simplesmente sonha porque nasceu para amar.


É por isso que eu digo:
― Eu ainda brinco de boneca
É essa a minha mania!

*Do livro Agá-Efe: entre ruínas & quimeras (FERNANDES, Hercília, 2006, p. 95-96).

1 comentário:

Tite disse...

Lindo poema de brincar com bonecas.
Quem não gosta?
Eu adoro brincar com as minhas netas.

Bjs