terça-feira, 28 de outubro de 2008

ELF - a minha salvação!

“Eva Tudor, Tonia Carrero, Eva Wilma, Leila, Odete e Norma, mulheres do meu tempo, liderando uma passeata em 1968 no Brasil.

Foto roubada d'aqui

Convém fazer um preâmbulo para se perceber os comportamentos dos progenitores nas décadas de 50 e 60.

Naqueles tempos nem todos os Pais almejavam para as suas filhas metas académicas tão longínquas e de previsível independência como o faziam para os filhos. Nos filhos depositava-se todas as esperanças e todo o investimento familiar nos futuros Chefes de Família. Eles deveriam estar preparados com todas as armas e ferramentas necessárias para suportar o agregado familiar.

Foi neste contexto que meu Pai decidiu que nunca iria investir na formação das suas descendentes mulheres (éramos duas) e determinou que, finda a 4ª classe, assim se chamava ao actual 4º ano do ensino básico, ficaríamos por casa a ajudar a Mãe e a aprender com ela a ser excelentes donas de casa.

Para quem, como eu, tinha uma curiosidade imensa por aprofundar conhecimentos a todos os níveis culturais, imaginem a total frustração e o fim dos sonhos que então acalentava.

Nas minhas relações de amizade, havia uma jovem mais nova do que eu 2 ou 3 anos, estudante do Liceu D. Filipa de Lencastre, (hoje Pró-Reitor da Universidade do Minho) a quem solicitei explicações de Francês e Inglês nas suas horas vagas. Era o possível para não ficar limitada, já que todos os meus amigos da época se divertiam a produzir uns inquéritos, bem criativos para a época, que distribuíam pelos amigos para todos responderem. Havia quem o fizesse em Português, a nossa língua obviamente, mas também em Inglês ou Francês línguas que tinham como disciplinas de opção ou obrigatórias nos programas lectivos daquela altura.

Foi aí que tudo se modificou. A minha amiga não conseguia dar vazão à minha fome de conhecimento, dada a exigência de tempo dedicado aos seus afazeres que eram muitos atendendo ao exigente Liceu que frequentava. Dirigiu-se a minha Mãe e implorou-lhe para me proporcionarem ensino académico adequado porque certamente os deixaria (a ela e ao meu Pai) orgulhosos com os resultados.

Foi assim, com a chamada de atenção de uma jovem de 14 anos (eu tinha 16 nessa altura) que meus Pais reviram a sua posição e, não podendo já colocar-me de dia, dada a idade avançada não permitida pelo ensino público, e não autorizando meu Pai a minha inscrição em qualquer estabelecimento de ensino nocturno, se encontrou a salvação na Escola Lusitânia Feminina.

Era uma Escola caríssima para uma família que, na altura, nem da classe média se podia chamar, mas devo esse sacrifício à minha Mãe que imediatamente se prontificou a fazer as economias necessárias e proporcionar-me a ferramenta profissional que tão útil se veio a revelar no meu desempenho como Secretária duma grande empresa multinacional.

Certamente que esta história será igual a de muitas colegas que tive, mas não queria deixar passar o modo e a razão como fui parar a um estabelecimento de ensino prático e profissional tão prestigiado já que encontrei, na minha actividade de 38 anos, muitas outras Secretárias formadas pela nossa Escola.

Fim do 1º episódio.

1 comentário:

Ana Paula disse...

Para a época era realmente uma escola carissima. Custava quase mil escudos por mês que para muita gente era um ordenado. Ainda bem que foste là parar, tu mereces-te isso e muito mais...és uma Mulher muito especial!
Beijokas